Problemas são uma merda. Além disso, podem também ser oportunidades disfarçadas de abacaxis. Todos nós passamos por uma infinidade deles durante a vida, porém algumas pessoas parecem ter mais facilidade em resolvê-los que outras.
Pensando nisso que criei este artigo – que é baseado em um método para resolução de problemas que li no site Lifehacker.com – que tem a pretensão de auxiliar as pessoas quando se depararem com problemas de qualquer natureza, como por exemplo, “o computador estragou, e agora?” até “o que vou fazer para ganhar a vida?”.
Nem comece a ler este método se estiver com a esperança de encontrar nele uma forma de eliminar os problemas de sua vida e viver em estado de profunda felicidade eterna. O que quero é mostrar que todo problema tem solução, ou como um amigo diz, todo desafio que surge em nossas vidas é como uma moeda, onde de um lado está o problema e do outro a solução, o que os torna inseparáveis.
O que este método faz é ajudá-lo a montar um plano com o passo-a-passo para a resolução do problema, e ainda mostrar formas para você manter-se motivado quando lidar com questões que demorem tempo para serem resolvidas. Ele é dividido em três passos básicos:
- Entender o problema, para manter o foco na real questão que você tem em mãos.
- Criar um plano, com uma série de passos a serem seguidos.
- Manter-se motivado, para não desistir ou se frustrar quando a resolução do problema demorar.
Pode parecer algo simples, até senso comum para alguns, mas como diz Stephen Covey “nem tudo que é senso comum é prática comum”. Confesso que as pessoas que são boas em resolver problemas fazem instintivamente esses três passos, porém se não for esse o seu caso, recomendo a leitura na íntegra deste artigo.
Para facilitar o entendimento do método, irei utilizar uma estória bizarra retirada do texto original para ilustrar a resolução de um dilema. Aqui vamos nós…
Primeiro passo: entender o real problema
Por incrível que pareça muitas vezes saber qual é realmente o problema é o passo mais difícil do processo, pois não é raro nos concentrarmos no lado errado da questão, ou ainda olharmos para ele de forma muito abrangente. Por exemplo, se estiver doente pode ver o problema como “estou doente” – que é algo muito abrangente. Você pode ser mais específico e constatar “sinto meu nariz congestionado”. O problema “congestionado” é mais específico e um pouco mais detalhado do que “doente”, porém é um sintoma que se aplica a muitas outras doenças e pode não revelar o problema verdadeiro.
Você pode estar resfriado, gripado, com alguma alergia, etc., mas a pouca informação que você tem não diz o bastante para saber do que se trata. A questão é que tanto a doenças quanto a congestão parecem ser o problema, e tentando achar uma solução para cada uma está dando tiros no escuro. A fim de compreender corretamente o que precisa ser feito você tem que descobrir o verdadeiro problema. Você precisa quebrar o problema em sua forma mais simples. Vamos para nossa estória bizarra.
O Caso da Perna Roubada: Parte I
Imagine por um momento que você perdeu uma perna em um acidente e vive com uma prótese já há alguns anos. Um dia você recebe a visita de um daqueles vendedores “porta-em-porta” – também conhecidos como caixeiros-viajantes – que gosta de sua perna mecânica e quer comprá-la. Você não quer vender, e ele, tirando vantagem de sua limitação física, lhe da um soco na cara e rouba sua prótese. O problema óbvio é que agora você está sem uma perna, porém esse problema é pouco específico. Por sorte, seu problema é simples de entender, pois você conhece a sua causa: o vendedor que a roubou. A solução também parece simples: você precisa encontrar esse vendedor sacana e recuperar sua perna.
Esse problema é fácil de quebrar, pois sua causa é óbvia. Mas imagine se não fosse: se sua perna sumisse repentinamente enquanto você dormia? Você precisaria buscar pistas. Talvez o culpado deixou cair alguns itens ao longo do caminho. Talvez alguém o tenha visto sair correndo de sua casa e seja capaz de identificá-lo. Sejam quais forem as pistas, quando você tenta resolver um problema precisa buscar o máximo de informações possíveis para ter certeza de que está focado na questão certa. Acordar com a prótese faltando faria você rapidamente perceber que alguém o roubou, porém essa informação não é específica o suficiente para ser útil. Só é útil o suficiente para conduzi-lo às pistas mais precisas.
Pode parecer tosco, mas o processo de descobrir uma doença e resolver o roubo de uma prótese é praticamente o mesmo. Se estiver buscando descobrir a causa da doença, você busca pistas e coleta informações baseado no que encontrar. Você pode buscar na web quais são os demais sintomas que tem que apontam para uma doença específica. (Apesar de eu achar mais inteligente procurar um médico.)
Independentemente do tipo de problema, a primeira coisa a ser feita é reduzi-lo a sua forma mais simples e pura para ter a noção exata de com o que você está lidando. Quando tiver o conhecimento do real do problema, você pode seguir em frente e montar um plano de ação para resolvê-lo.
Segundo passo: criar um plano
O problema se torna um monstro se você não encontrar uma forma de solucioná-lo. Você pode até saber o que está buscando alcançar, porém se não tem os passos para chegar lá vai ser muito difícil. Para ir do ponto A para o B você precisa de um plano que especifique os passos necessários para chegar lá.
Como encontrar esses passos? A primeira coisa é se perguntar o que está impedindo você de avançar, e fazer disso o primeiro passo. O passo número um abrirá as portas para os demais passos. Depois procure mais passos que abrirão mais e mais portas e vá adicionando-os ao plano, até chegar ao resultado desejado. As coisas irão mudar conforme você for executando o plano, e terá de se adaptar a isso. É fundamental manter um plano aberto para inclusão de novos passos que podem surgir ao longo do caminho. Você deve estar achando isso tudo um pouco vago, portanto, vamos voltar a nossa estória:
O Caso da Perna Roubada: Parte II
O problema que precisa ser resolvido está muito claro: você está sem a prótese de sua perna e precisa recuperá-la. Então você para – mentalmente claro, pois sem uma perna você não está em condições de ir muito longe. Como vai fazer para recuperar sua perna? Você sabe o resultado que quer, porém parece impossível de alcançá-lo. Isso porque você está olhando para o ponto A – você sem a perna – e para o ponto B – encontrar o ladrão e recuperar sua perna. Há uma grande distância entre esses dois pontos, e você jamais chegará ao ponto B sem cumprir os passos que o separam de sua condição atual. Você precisa de um plano.
Como montar um plano para recuperar sua perna? Você deve evitar os pensamentos sobre o resultado final e se concentrar na questão mais urgente que tem em mãos. Se sua perna foi roubada, e você está atirado ao chão, qual é a primeira coisa que precisa fazer? Se levantar. E depois? Chamar ajuda, pois fica difícil começar as buscas sozinho em suas condições atuais. Sendo assim, o plano para resolver o caso da perna roubada poderia ser este:
- Usar a cadeira onde estava sentado para se apoiar até chegar ao telefone e pedir ajuda.
- Chamar a polícia e denunciar o roubo.
- Chamar um amigo para ajudar nas buscas do vendedor ladrão.
- Fazer buscas em hotéis e motéis locais onde o safado do vendedor possa estar hospedado. A final ele é um caixeiro-viajante e precisa estar instalado temporariamente em algum lugar da cidade.
- Esperar o vendedor voltar à seu hotel e recuperar a perna.
Esse plano garante o sucesso na resolução do problema? Quando sabe aonde quer chegar, você consegue delinear passos, pois sabe exatamente o que busca. Problemas técnicos geralmente são assim fáceis de resolver, porém quando lidamos com pessoas não conseguimos ter a mesma previsibilidade. Na maioria das vezes existe um número muito grande de variáveis que precisam ser consideradas ao traçar os passos do plano. Se não levar em conta o inesperado, seu plano acabará por tornar-se inútil, e é claro que você jamais vai querer que isso aconteça.
Terceiro passo: mantenha-se motivado
Se após montar seu plano você ver que ele é inútil, fica difícil se manter motivado, pois se considerará um fracassado. Mas não, você apenas caiu na armadilha de criar um plano que não é flexível o bastante para dar conta das surpresas que surgem ao longo do caminho. Além de seus planos terem que ser flexíveis, você precisa especular sobre as eventuais surpresas que apareçam. Nem sempre será possível prever com exatidão o que vai acontecer, mas você pode fazer suposições que te deixarão mais preparado para lidar com o que venham a acontecer. Isso o ajudará a manter-se motivado na resolução de problemas que levam mais tempo, além das surpresas não serem tão devastadoras quando aparecerem, pois estará preparado para enfrentá-las.
Vamos voltar a nossa louca estória:
O Caso da Perna Roubada: Parte III
Suponhamos que você vasculhe cada hotel e motel da cidade e não localize o vendedor que o roubou. Presumindo que 100% das informações que foram passadas a você tenham sido honestas, e que ele não esteja alugando nenhuma das acomodações, seu plano vigente torna-se inútil. Isso é normal, como a maioria dos problemas que você encontrar na vida, que trazem surpresas ao longo do caminho e obrigam você a mudar o plano. O importante é reconhecer essas surpresas. No caso do vendedor ladrão de perna, seu primeiro instinto falhou e você precisa de mais informações. Se seu plano for bom você teria levado em conta desde o começo que talvez ele não estivesse em hotel nenhum, e teria se preocupado em coletar mais informações com as pessoas que encontrou ao longo do caminho ao invés de apenas tentar descobrir se o vendedor tentou alugar algum quarto. Digamos que entrevistando uma pessoa em um dos hotéis você descobre que alguém viu o ladrão freqüentando certa loja de café. Com isso pode facilmente mudar seu plano e ir a essa loja, falar com os funcionários, e descobrir que o vendedor pilantra esteve na loja com uma tia que mora na periferia da cidade. Com essa informação você poderia fazer uma visita a essa tia e tomar de volta sua prótese antes que o vendedor sumisse.
Essa é uma estória com um final feliz, mas todos sabem que nem sempre é assim. Digamos que você tenha falhado em recuperar sua prótese. Ter um plano não significa necessariamente que você conseguirá alcançar seu objetivo. Por esse motivo, um bom plano deve ajudar também em caso de fracasso. Por exemplo, se falhar você pode comprar uma nova prótese. Pode não ser o resultado que você esperava, mas pelo menos vai poder andar novamente – mesmo que isso custe caro a seu bolso. Saber que você ficará pouco tempo sem a perna pode reduzir sua ansiedade, o que aumenta suas chances de sucesso. Você sabe que se falhar tem uma segunda alternativa.
Vamos dar uma olhada no que acabamos de fazer:
- Primeiro, descobrimos o real problema: estamos procurando a perna, que foi roubada por um caixeiro-viajante, e precisamos pegá-la de volta.
- Segundo, criamos um plano inicial, começando pelo passo mais urgente que abre as portas para a descoberta de novos passos. Não sabemos o resultado que vamos obter, por isso precisamos especular sobre surpresas.
- Finalmente, pelo fato do resultado do plano inicial não ter sido alcançado, modificamos o plano para adaptá-lo as surpresas que surgiram ao longo do caminho. Também nos preparamos para o caso de falharmos, o que nos tranquilozou, pois sabíamos que voltaremos a andar independente do resultado do plano.
Seguir esses passos geralmente é a melhor forma de resolver um problema. Claro que ter uma perna roubada não é uma situação que a maioria de nós vai encontrar ao longo da vida, por isso antes de acabarmos este artigo vamos dar uma olhada em alguns outros exemplos práticos de aplicação deste método.
Mais alguns exemplos práticos
Vamos dar uma olhada rápida em como quebrar e resolver um simples problema técnico, e outro de ordem pessoal bem mais complicado.
Quebrando um problema técnico
Imagine um computador estragado que precise ser consertado. Tudo que você sabe é que quando ele liga faz um barulho esquisito, e não entra no Windows. Como qualquer outro problema, você tem que fazer uma pequena pesquisa para ver o que está errado. Isso se torna mais divertido se você olhar para o problema como um mistério a ser resolvido e utilizar as pistas que tem para encontrar novas pistas que o levem a resposta que está procurando. No caso do computador estragado, considere o que você já sabe: ele faz um barulho estranho e não entra no Windows. Porém você não está detalhando o suficiente. Esse som parece com o que? Digamos que soa como um clique – algo parecido com o tic-tac do relógio. Sendo assim você pode com facilidade buscar na internet mais informações sobre computadores estragados que faça esse barulho peculiar, e descobrir que o que está estragado é provavelmente o HD. Agora você conhece o real problema: o HD está quebrado. A solução: comprar um novo HD.
Com isso podemos seguir adiante e montar um plano de como resolver o problema. Ele pode ser algo assim:
- Pesquisar na web como trocar um HD.
- Comprar um HD novo.
- Instalar HD.
- Copiar os dados para o novo HD (já que você é muito responsável e sempre faz backup).
Moleza, não?
Quebrando um complicado problema pessoal
Problemas pessoais, ou demais problemas com soluções menos técnicas e uniformes, podem ser bem mais complicados de resolver, porém o processo é o mesmo. Digamos que você trabalha como corretor de imóveis há anos, mas seu verdadeiro sonho é se tornar um artista. Um pintor, para ser mais específico. É uma grande guinada em sua carreira, mas sua felicidade é o que importa e você está disposto a tentar.
Seu problema é que você quer ser pintor, mas não sabe como. Apesar de ser uma constatação vaga, não deixa de ser uma boa pista para começar. Se não sabe como fazer algo, basta perguntar a quem sabe. Embora seja improvável que você não consiga pedir conselhos de um pintor, ou ler algo sobre o assunto na internet ou livros, vamos fingir que essas opções não existam. Suponhamos que tudo que você tenha é seu próprio conhecimento e precise de mais pistas. Você pode olhar para outro problema semelhante que já resolveu no passado. Apesar de sua experiência como agente imobiliário parecer irrelevante, com certeza não é. Você teve que conseguir o trabalho de alguma forma, e depois teve de mantê-lo por vários anos. Como fez isso? Provavelmente tinha algumas competências que seu empregador viu e o fizeram lhe dar uma chance. Ao longo dos anos você adquiriu experiência e sucesso, tornando mais fácil encontrar trabalho e ganhar dinheiro como corretor de imóveis. Se quiser trabalhar como pintor, que também é uma profissão, você precisa dessas mesmas coisas básicas.
O problema é que você ainda não tem nenhuma experiência e talento como pintor. Esse é o verdadeiro problema que deve solucionar.
Como podemos criar um plano que torne o sonho de se tornar pintor uma realidade? Sabemos que o problema é que você não tem o talento e a experiência necessária para isso, sendo assim, qual é o passo mais urgente que deve dar? Adquirir talento e experiência. Uma vez que os tiver, você pode usá-los para procurar trabalhos e se tornar cada vez mais bem sucedido. Seu plano pode ser algo como:
- Se matricular em um curso noturno de pintura.
- Fazer uma poupança para o caso de imprevistos.
- Praticar fazendo belas pinturas que serão seu portfólio.
- Usar os contatos como corretor para prospectar clientes que podem estar interessados em um quadro ou pintura na parede.
- Conquistar clientes o suficiente para largar o emprego como corretor.
- Tentar ganhar a vida como pintor freelancer. Se não der certo, viver da poupança acumulada até conseguir. Em último caso arrumar um emprego em outra área para não morrer de fome.
Esse é um plano bem básico que sintetiza as idéias do método. Quando estiver quebrando um problema em um plano, você precisa ser específico o suficiente para não ficar parado. Se for específico de mais as surpresas que surgirem podem se tornar armadilhas. Se não for específico o suficiente não saberá qual é o próximo passo.
A manha é criar passos que te permitam andar para frente e ao mesmo tempo que não lhe deixem enrascado quando for pego de surpresa. Ser muito mente fechada pode prejudicar você na hora de fazer as escolhas certas.
O que você realmente precisa fazer para resolver qualquer problema é sintetizá-lo a sua forma mais simples, criar um plano com o passo-a-passo para resolvê-lo, e tornar esse plano flexível o suficiente para não se desmotivar. Fazendo isso o problema não ficará necessariamente mais fácil de ser resolvido, porém ficará mais claro e você terá um caminho que leva a solução.
Tem alguma manha para resolver problemas que queira compartilhar com todos? Conte para nós nos comentários.
Este artigo é inspirado no texto A Systematic Approach to Solving Just About Any Problem, de Adam Dachis. Postado no site Lifehacker.com
4 respostas para “Método para Resolver Qualquer Tipo de Problema”
Adorei
Fantástico texto… já tinha lido algo parecido, mas nada tão prático e esclarecedor. Abraços
Parabéns !
Continue com este belíssimo trabalho !
Sucesso na sua jornada !
Olá, Diego.
Obrigado pelo texto.
Às vezes encaramos alguma questão da vida exatamente daquele jeito errado que nos empaca, nos deixe inertes, atônitos, angustiados.
Testarei os passos propostos para algumas questões técnicas de trabalho e outros dilemas mais complexos da vida.
Deus abençoe você.